Tenho o hábito de, diariamente, checar minha caixa postal. Faço isso de forma sistemática, procurando “garimpar” em meio às inúmeras propagandas, comunicados importantes e informes que posam me interessar.
E foi assim que o fiz, no dia 06 de janeiro de 2015. Abri minha caixa postal e me deparei com um e-mail enviado pela Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Acre - ASSOGIAC, sociedade a qual pertenço, enquanto especialista nessa área, com uma matéria sobre as novas regras da ANS e do Ministério da Saúde-MS.
“O Ministério da Saúde e Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicam nesta quarta-feira (7/1) resolução que estabelece normas para estímulo do parto normal e a consequente à informação pelas consumidoras de planos de saúde, que poderão solicitar às operadoras os percentuais de cirurgias cesáreas e de partos normais por estabelecimento de saúde, por médico e por operadora. As informações deverão estar disponíveis no prazo máximo de 15 dias, contados a partir da data de solicitação. Atualmente, 23,7 milhões de mulheres são beneficiárias de planos de assistência médica com atendimento obstétrico no país, público-alvo dessas medidas. As regras foram apresentadas pelo ministro da Saúde, Arthur Chioro, e os diretores da ANS nesta terça-feira (6/1), em Brasília, e passam a ser obrigatórias em 180 dias.” Isabella Eckstein, da ANS Atendimento à imprensa
A leitura dessa nota me deixou intrigada: estariam realmente as usuárias dos planos de saúde interessadas nas informações sobre estatísticas de tipos de parto por médico, estabelecimento de saúde e por operadora? Qual seria a interpretação que essas mulheres fariam do resultado dessas estatísticas? Quais as conclusões que, individualmente e dependentemente de sua capacidade de avaliação, poderiam tirar desse material e o que isso iria repercutir em suas vidas?
Prosseguindo à leitura, entendi que essa resolução faz parte de um pool de medidas estabelecidas pelo MS em função de se reduzir o número de cesarianas dentre as usuárias dos planos de saúde, que são bastante altas em relação a partos normais, aproximadamente o dobro que em relação ao serviço público.
Sim, diminuir a quantidade de cesáreas é importante, mas a obrigatoriedade do fornecimento de tais estatísticas não seria uma forma de apontar o médico como responsável pelo “crime da cesárea”?
O obstetra é o responsável pelo maior número de cesarianas na clínica privada, mas ele não é o único. As dificuldades para conciliar a vida profissional cotidiana com o acompanhamento do parto a remuneração irrisória paga pelos planos de saúde por esse procedimento e o receio dos processos penais advindos de intercorrências desagradáveis aliados à autonomia da sua paciente, a necessidade de que tem de um desfecho feliz da sua gestação e o medo do parto normal e suas consequências ginecológicas estão com ele nesse processo. Portanto, o aparente “culpado” passa a ser a vítima de um sistema que o mantém constantemente na mira de problemas.
A ANS e os planos de saúde entendem que a sua usuária tem inúmeros direitos e o médico conveniado apenas inúmeros deveres, inclusive o de estar 100% disponível a qualquer momento e ser mal remunerado. Não há defesa para quando é acusado e injustamente ignoram os riscos da profissão, em todos os sentidos.
Fala-se em redução do número de cesáreas. Isso é importante desde que as gestantes aceitem passar pelo processo do parto normal, o que significa terem a certeza de que terão assistência suficiente que lhes forneça conforto e segurança para preservar sua integridade física e psicológica e a do seu bebê.
“Eu quero que o meu parto seja acompanhado pelo meu médico, pois ele é quem sabe dos meus problemas e eu pago um plano de saúde para isso”. Essa frase, que constantemente ouvimos na nossa clínica privada, exprime o vínculo criado entre a gestante e o seu obstetra durante o pré-natal e ninguém melhor do que ele, que acompanhou a sua gestação, que tem conhecimento dos seus anseios e medos e quem com ela mantém um vínculo especial de amizade, para ser o seu ponto de apoio no momento do seu parto.
No entanto, os perigos constantes da vida cotidiana, o receio do imprevisto, o medo da acusação e consequente penalização por qualquer desfecho diferente do planejado, oprimem o obstetra e o obriga a não mais querer correr riscos.
Nesse contexto, as cesáreas com data marcada somam-se às estatísticas, cujos números não expressam nada além das dificuldades enfrentadas pelos obstetras, os imprevistos do pré- natal e do trabalho de parto e a vontade da paciente.
Volto ao meu questionamento inicial: para quem servem essas estatísticas? Certamente servirão para a própria ANS, para o Ministério da Saúde e para a as operadoras de planos de saúde. Servirão para que repensem a saúde suplementar e passem a entender as dificuldades dos obstetras e a valorizá-los, uma vez que nada poderá acontecer sem eles, em vez de apontá-los como responsáveis pelas suas próprias deficiências.
Certamente, também, essas estatísticas servirão para mostrar que o brasileiro paga milhões por impostos e afins para não contar com um sistema de saúde pública adequado às suas necessidades e que, pelo contrário, o obriga a gastar ainda mais ao pagar a cara conta dos planos de saúde que também deixam muito a desejar.
E foi assim que o fiz, no dia 06 de janeiro de 2015. Abri minha caixa postal e me deparei com um e-mail enviado pela Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Acre - ASSOGIAC, sociedade a qual pertenço, enquanto especialista nessa área, com uma matéria sobre as novas regras da ANS e do Ministério da Saúde-MS.
“O Ministério da Saúde e Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicam nesta quarta-feira (7/1) resolução que estabelece normas para estímulo do parto normal e a consequente à informação pelas consumidoras de planos de saúde, que poderão solicitar às operadoras os percentuais de cirurgias cesáreas e de partos normais por estabelecimento de saúde, por médico e por operadora. As informações deverão estar disponíveis no prazo máximo de 15 dias, contados a partir da data de solicitação. Atualmente, 23,7 milhões de mulheres são beneficiárias de planos de assistência médica com atendimento obstétrico no país, público-alvo dessas medidas. As regras foram apresentadas pelo ministro da Saúde, Arthur Chioro, e os diretores da ANS nesta terça-feira (6/1), em Brasília, e passam a ser obrigatórias em 180 dias.” Isabella Eckstein, da ANS Atendimento à imprensa
A leitura dessa nota me deixou intrigada: estariam realmente as usuárias dos planos de saúde interessadas nas informações sobre estatísticas de tipos de parto por médico, estabelecimento de saúde e por operadora? Qual seria a interpretação que essas mulheres fariam do resultado dessas estatísticas? Quais as conclusões que, individualmente e dependentemente de sua capacidade de avaliação, poderiam tirar desse material e o que isso iria repercutir em suas vidas?
Prosseguindo à leitura, entendi que essa resolução faz parte de um pool de medidas estabelecidas pelo MS em função de se reduzir o número de cesarianas dentre as usuárias dos planos de saúde, que são bastante altas em relação a partos normais, aproximadamente o dobro que em relação ao serviço público.
Sim, diminuir a quantidade de cesáreas é importante, mas a obrigatoriedade do fornecimento de tais estatísticas não seria uma forma de apontar o médico como responsável pelo “crime da cesárea”?
O obstetra é o responsável pelo maior número de cesarianas na clínica privada, mas ele não é o único. As dificuldades para conciliar a vida profissional cotidiana com o acompanhamento do parto a remuneração irrisória paga pelos planos de saúde por esse procedimento e o receio dos processos penais advindos de intercorrências desagradáveis aliados à autonomia da sua paciente, a necessidade de que tem de um desfecho feliz da sua gestação e o medo do parto normal e suas consequências ginecológicas estão com ele nesse processo. Portanto, o aparente “culpado” passa a ser a vítima de um sistema que o mantém constantemente na mira de problemas.
A ANS e os planos de saúde entendem que a sua usuária tem inúmeros direitos e o médico conveniado apenas inúmeros deveres, inclusive o de estar 100% disponível a qualquer momento e ser mal remunerado. Não há defesa para quando é acusado e injustamente ignoram os riscos da profissão, em todos os sentidos.
Fala-se em redução do número de cesáreas. Isso é importante desde que as gestantes aceitem passar pelo processo do parto normal, o que significa terem a certeza de que terão assistência suficiente que lhes forneça conforto e segurança para preservar sua integridade física e psicológica e a do seu bebê.
“Eu quero que o meu parto seja acompanhado pelo meu médico, pois ele é quem sabe dos meus problemas e eu pago um plano de saúde para isso”. Essa frase, que constantemente ouvimos na nossa clínica privada, exprime o vínculo criado entre a gestante e o seu obstetra durante o pré-natal e ninguém melhor do que ele, que acompanhou a sua gestação, que tem conhecimento dos seus anseios e medos e quem com ela mantém um vínculo especial de amizade, para ser o seu ponto de apoio no momento do seu parto.
No entanto, os perigos constantes da vida cotidiana, o receio do imprevisto, o medo da acusação e consequente penalização por qualquer desfecho diferente do planejado, oprimem o obstetra e o obriga a não mais querer correr riscos.
Nesse contexto, as cesáreas com data marcada somam-se às estatísticas, cujos números não expressam nada além das dificuldades enfrentadas pelos obstetras, os imprevistos do pré- natal e do trabalho de parto e a vontade da paciente.
Volto ao meu questionamento inicial: para quem servem essas estatísticas? Certamente servirão para a própria ANS, para o Ministério da Saúde e para a as operadoras de planos de saúde. Servirão para que repensem a saúde suplementar e passem a entender as dificuldades dos obstetras e a valorizá-los, uma vez que nada poderá acontecer sem eles, em vez de apontá-los como responsáveis pelas suas próprias deficiências.
Certamente, também, essas estatísticas servirão para mostrar que o brasileiro paga milhões por impostos e afins para não contar com um sistema de saúde pública adequado às suas necessidades e que, pelo contrário, o obriga a gastar ainda mais ao pagar a cara conta dos planos de saúde que também deixam muito a desejar.