Gestores desatualizados costumam afirmar que os médicos mais antigos é que eram bons porque examinavam os pacientes e diagnosticavam as doenças apenas com a avaliação clínica, enquanto que os médicos mais novos só sabem pedir exames e nada de examinar.
Afirmam que os médicos antigos ouviam seus pacientes, auscultavam, examinavam e observavam sinais visíveis – rubor, manchas, edemas, coriza, dores e que os médicos de hoje não examinam e mal escutam seus pacientes. Que enquanto o paciente está falando ele está escrevendo uma receita ou pedindo exames de sangue, ultrassonografia, endoscopia, raios-X, tomografia, ressonância etc., muitas vezes “desnecessários” e, fundamentalmente, caros.
Afirmam que essas condutas e os pedidos de exames caros e desnecessários estão quebrando o sistema de saúde e encarecendo o tratamento. Será verdade? Claro que não! Isso é uma completa estultice e demonstra o absoluto desconhecimento dos gestores a respeito do que é medicina. Aliás, a medicina hoje é um grande negócio administrado exclusivamente por financistas, administradores e, mormente, por políticos e burocratas despreparados e essencialmente corruptos.
Por sua vez, o médico atual é resultante destes tempos de plena tecnologia, onde não mais se concebe as limitações que existiam antes para se chegar a um diagnóstico. Por isso, as BOAS universidades reprogramaram seus cursos para incorporar neles todos os avanços científicos.
A medicina é uma ciência que para chegar ao seu objetivo final - a cura do mal que atormenta o paciente -, deve contar com um fator fundamental, o médico, único profissional que conta com formação acadêmica integral e que se diferencia dos demais paramédicos justamente por isso. Em tese, o médico domina o todo enquanto que os paramédicos se dedicam às partes. Por tal domínio, o diagnóstico das doenças é do médico! Portanto, é com ele que as demais profissões devem interagir para conseguir uma rápida cura.
A evolução do conhecimento na área médica foi assombrosa! Tanto no conhecimento do corpo humano e de suas funções, quanto no desenvolvimento de aparelhagem e instrumental. Também ganharam novos ventos os tratamentos e medicamentos que hoje executam com maior eficiência a tarefa cirúrgica de encontrar o causador da agressão e dar fim nele. Do primitivo aparelho de raios-X passou-se ao ultrassom, depois ao tomógrafo e mais recentemente à ressonância magnética. As cirurgias, em alguns centros mais privilegiados, estão sendo realizadas com o auxílio de “dedos” e “braços” mecânicos, quando não de robôs.
Outros procedimentos progrediram tanto que dispensaram as extensas feridas no corpo para privilegiar o “conserto” através de cateteres guiados por câmeras de vídeo, reduzindo infecções e tempo de recuperação. Eu mesmo, há dois anos, fui submetido a uma cirurgia de grande porte que deixou como sinal apenas seis pequenas cicatrizes, quase invisíveis e nenhuma dor ou perda de sangue. Dois dias depois da cirurgia já estava trabalhando. Vivemos, pois, um novo momento e uma nova prática médica.
Entretanto, devemos recordar que a medicina continua como uma ciência não exata. Em medicina dois mais dois nem sempre dá quatro. Pode dar três, quatro, cinco, quarenta ou nada. É que as doenças não se manifestam da mesma forma em todas as pessoas. Cada um de nós, dependendo de nossa carga genética e imunobiológica, pode sofrer mais ou menos com uma mesma bactéria, por exemplo. Assim como também cada um de nós responde a um medicamento de forma diferente.
Ou seja, um médico, para chegar à certeza de que o paciente está com um mal determinado (DIAGNÓSTICO), tem de investigar muito e descartar uma a uma as inúmeras possibilidades de que se trate de outra doença. E ainda, depois do diagnóstico, tem que lidar com a incerteza de saber se esse paciente vai reagir bem ou mal ao medicamento previsto para esse agravo.
Também o médico e só ele, deve decidir sobre os critérios que pode e deve utilizar para definir qual será a quantidade desse medicamento a ser utilizado nesse paciente – variáveis de peso, idade, estado físico, etc. Por outro lado, não é possível esquecer daquele ditado que ensina: “o veneno, dependendo da dose, mata ou cura”. Pois com o medicamento é a mesma coisa.
Todavia devemos considerar outra condicionante - muito mais perigosa: o tempo que se demora até chegar ao diagnóstico. É consenso que enquanto mais rápido for definido o mal e combatido com o medicamento preciso em espécie e quantidade, melhor será a resposta. Portanto, tudo é condicionado pelo fator causal do agravo e dos recursos técnicos auxiliares disponíveis. Lembremos que bactérias, vírus, mutações celulares e inúmeros outros “bichinhos” que também estão brigando para se dar bem em nossos corpos, são tão espertos e mutantes quanto nós, humanos.
Então, caro leitor, percebeu a enorme dificuldade que significa chegar a um diagnóstico? Vejamos como um médico ético e competente teria de se comportar...
A investigação começa ouvindo o paciente. Sem correria, transmitindo confiança e deixando claro que o primordial dessa primeira consulta é colher as melhores informações que ele, paciente, lhe dará! Fatos, sensações, dores, alimentação, práticas de higiene, contatos com outras pessoas e, tudo quanto possa ser importante. Essas preciosas informações devem ser relacionas e comparadas com aquelas que já estão nos protocolos e compêndios de medicina e que, por certo, deverão também estar no cérebro do médico.
Você tem ideia da quantidade e diversidade de coisas que essas informações significam? Por outro lado, você pensa que o curso de medicina proporciona aos médicos todo esse conhecimento apenas com aulas e prática nas universidades? Claro que não!
O médico depois de formado deve continuar a estudar todo dia. Geralmente, parte para uma especialidade, que, no mínimo, exige mais 3 anos de estudo e prática. Ademais, é treinado para manter-se atento, alerta àquilo que a experiência ensina todo dia!
É orientado a buscar atualização e sintonia com os rápidos avanços experimentados pela ciência. O médico deve participar em seminários, cursos, congressos, encontros e outros eventos onde os avanços e descobrimentos são descritos e socializados entre os integrantes da corporação e que é obrigação do gestor, dos Conselhos de Medicina e das Sociedades de Especialidade disponibilizar.
Nesse trabalho investigativo para definir a doença, ademais do conhecimento teórico utilizado na consulta inicial e nas posteriores, o médico deve contar com instrumentos e equipamentos que o auxiliem na mais acurada e rápida definição do agravo. Não porque ele desconheça medicina, senão porque esses aparelhos e instrumentos a cada dia incorporados ao arsenal médico contribuem sobremaneira na mais precoce definição do diagnóstico. Resulta ilógico e injusto para o paciente que existindo novos recursos tecnológicos eles deixem de ser utilizados apenas pelo insustentável argumento do seu custo.
Eis o fundamental conflito!!!
De um lado temos o médico interessado em conseguir fechar o diagnóstico para curar seu paciente o mais rápido possível. Do outro um gestor preocupado com reduzir custos.
Geralmente trata-se de um diálogo de surdos e mudos porque dificilmente as partes sentam para definir protocolos e consensos, quase sempre inviabilizados por que, de um lado prima a ciência médica e do outro as finanças. Raros são os casos onde essas disciplinas compactuam e acertam o passo para beneficiar os pacientes. Forçoso é reconhecer que existem desvios e exageros de ambas as partes.
Retornando ao fundamental momento da definição do diagnóstico, entendo que diante as inúmeras possibilidades postas em face dos sintomas relatados pelo paciente e constatados na primeira consulta, o médico deve utilizar todos os instrumentos e equipamentos disponíveis para encontrar o agente causal da doença o mais rápido possível.
Se isso custa caro? Sem dúvida que tem custo bem maior do que a simples constatação e avaliação clínica que, como já demonstramos antes, é bastante imprecisa e demorada, eis que condicionada à tentativa e resultado.
Para otimizar o trabalho do médico o gestor deve disponibilizar minimamente os instrumentos, equipamentos e auxílio técnico profissional que possibilitem com maior precisão o diagnóstico. Unidades e postos de saúde onde são feitas consultas clínicas devem contar com laboratórios de análises e aparelhos de ultrassom e de raios-x, no mínimo, como requisito indispensável para aprimorar o atendimento e torná-lo resolutivo. O contrário será continuar com o “faz de conta” que hoje temos.
O paciente tem direito CONSTITUCIONAL a receber do Sistema Único de Saúde toda a atenção devida e o auxílio técnico necessário para ver debelada sua doença, mesmo que tais condições exijam maior “gasto”. Lembremos que uma doença devidamente identificada e bem tratada desde seu aparecimento será muito mais facilmente curada. E que uma doença rapidamente curada, para o gestor, será política e financeiramente muito mais compensadora.
Politicamente, o paciente saberá retribuir com votos o bom serviço prestado. Financeiramente serão poupados recursos que seriam demandados com o agravamento da doença: medicamentos em maiores quantidades e frequência, internações hospitalares, exames complementares mais caros e elaborados, tempo de inatividade bancada pelo INSS, tempo de familiares que também devem ser bancados pelo INSS para acompanhar o paciente e outras sequelas posteriores.
Destaquemos, por fim que pelo princípio constitucional da igualdade, todos deveriam receber os mesmos benefícios. Pobres e ricos têm direito a serem bem atendidos e à utilização de todos os meios e recursos disponíveis.
É inegável que as novas tecnologias, apesar de caras, são muito mais eficientes para definir as condições em que se encontra um paciente. Ademais de eficientes, são rápidas, razoes mais que suficientes para justificar sua utilização. Entretanto não adiante pensar que apenas equipamentos e instrumental de última geração vão resolver os problemas sozinhos. Um exame qualquer EXIGE interpretação pelo médico que o solicitou, único com competência técnica para tanto.
Ad nauseam repitamos: o médico é quem dispõe de todas as informações complementares para a correta avaliação do exame. Informações que foram colhidas durante a primeira consulta e que serão aferidas à vista da informação complementar oferecida pelo laudo do exame.
Para mais bem entender o exposto, retomo minha experiência pessoal: preocupado com a minha idade e com esquecimento de fatos recentes, consultei um neurologista. Depois de avaliar clinicamente meu caso, o médico determinou fosse feita ressonância magnética do cerebelo. Fiz.
Quando recolhi o envelope, ao igual que todos os mortais, não resisti. Abri e, conforme lia os achados relatados no laudo, comecei a sentir-me um defunto porque, na conclusão estava escrito que havia sinal de uma patologia que o Dr. Google me informou era incurável e que eu morreria, no máximo em dois anos, lapso em que ficaria também completamente dependente dos outros.
A consulta seguinte com o neurologista estava marcada para a semana seguinte. Pois essa semana foi a pior de minha vida!
Durante a consulta, o neurologista me devolveu a vida. Os tais sinais, de fato existiam, mas para minha idade, eram absolutamente normais. Disse-me para desmontar os preparativos que havia comentado para minha partida e que voltasse a trabalhar como sempre.
Veja, então, a importância do médico.
Um técnico (radiologista) fez a leitura correta das imagens que captou na ressonância. Imagens que para um leigo e mesmo para um médico sem o conhecimento complementar do especialista, teriam o mesmo significado que teve para mim.
Entretanto, essas mesmas imagens, à luz das informações complementares que o neurologista tinha e que foram obtidas na primeira consulta, demonstraram que se tratava de outra coisa muito mais prosaica, velhice!
Em minha terra natal existe um adágio que se aplica aqui: “Zapatero, a tus zapatos!” Ou seja, se você não é médico, não se meta a querer sê-lo porque isso somente vai terminar provocando problemas e esses problemas, quando aconteçam serão grandes demais para você.
Este apanhado tenciona demonstrar que o arremedo de atendimento médico disponibilizado nas redes municipal e estadual de saúde aqui no Acre, carece de sustentação técnica.
Ao contrário do que se pretende exibir, estão gastando mal nosso dinheiro. Falta técnica e conhecimento. Falta ouvir àqueles que conhecem e que sabem do que precisam para prestar um bom atendimento aos pacientes e isso é muito grave porque demonstra que ademais de ausência de visão estratégica, somente há voluntarismo e insipiência.
Minha proposta: Nos que de uma ou outra forma fazemos política de saúde, como disse um ex-presidente em seu último livro, temos que “forçar os limites”, porquanto:
“Política não a arte do possível. É a arte de criar condições para tornar possível o necessário.”
Afirmam que os médicos antigos ouviam seus pacientes, auscultavam, examinavam e observavam sinais visíveis – rubor, manchas, edemas, coriza, dores e que os médicos de hoje não examinam e mal escutam seus pacientes. Que enquanto o paciente está falando ele está escrevendo uma receita ou pedindo exames de sangue, ultrassonografia, endoscopia, raios-X, tomografia, ressonância etc., muitas vezes “desnecessários” e, fundamentalmente, caros.
Afirmam que essas condutas e os pedidos de exames caros e desnecessários estão quebrando o sistema de saúde e encarecendo o tratamento. Será verdade? Claro que não! Isso é uma completa estultice e demonstra o absoluto desconhecimento dos gestores a respeito do que é medicina. Aliás, a medicina hoje é um grande negócio administrado exclusivamente por financistas, administradores e, mormente, por políticos e burocratas despreparados e essencialmente corruptos.
Por sua vez, o médico atual é resultante destes tempos de plena tecnologia, onde não mais se concebe as limitações que existiam antes para se chegar a um diagnóstico. Por isso, as BOAS universidades reprogramaram seus cursos para incorporar neles todos os avanços científicos.
A medicina é uma ciência que para chegar ao seu objetivo final - a cura do mal que atormenta o paciente -, deve contar com um fator fundamental, o médico, único profissional que conta com formação acadêmica integral e que se diferencia dos demais paramédicos justamente por isso. Em tese, o médico domina o todo enquanto que os paramédicos se dedicam às partes. Por tal domínio, o diagnóstico das doenças é do médico! Portanto, é com ele que as demais profissões devem interagir para conseguir uma rápida cura.
A evolução do conhecimento na área médica foi assombrosa! Tanto no conhecimento do corpo humano e de suas funções, quanto no desenvolvimento de aparelhagem e instrumental. Também ganharam novos ventos os tratamentos e medicamentos que hoje executam com maior eficiência a tarefa cirúrgica de encontrar o causador da agressão e dar fim nele. Do primitivo aparelho de raios-X passou-se ao ultrassom, depois ao tomógrafo e mais recentemente à ressonância magnética. As cirurgias, em alguns centros mais privilegiados, estão sendo realizadas com o auxílio de “dedos” e “braços” mecânicos, quando não de robôs.
Outros procedimentos progrediram tanto que dispensaram as extensas feridas no corpo para privilegiar o “conserto” através de cateteres guiados por câmeras de vídeo, reduzindo infecções e tempo de recuperação. Eu mesmo, há dois anos, fui submetido a uma cirurgia de grande porte que deixou como sinal apenas seis pequenas cicatrizes, quase invisíveis e nenhuma dor ou perda de sangue. Dois dias depois da cirurgia já estava trabalhando. Vivemos, pois, um novo momento e uma nova prática médica.
Entretanto, devemos recordar que a medicina continua como uma ciência não exata. Em medicina dois mais dois nem sempre dá quatro. Pode dar três, quatro, cinco, quarenta ou nada. É que as doenças não se manifestam da mesma forma em todas as pessoas. Cada um de nós, dependendo de nossa carga genética e imunobiológica, pode sofrer mais ou menos com uma mesma bactéria, por exemplo. Assim como também cada um de nós responde a um medicamento de forma diferente.
Ou seja, um médico, para chegar à certeza de que o paciente está com um mal determinado (DIAGNÓSTICO), tem de investigar muito e descartar uma a uma as inúmeras possibilidades de que se trate de outra doença. E ainda, depois do diagnóstico, tem que lidar com a incerteza de saber se esse paciente vai reagir bem ou mal ao medicamento previsto para esse agravo.
Também o médico e só ele, deve decidir sobre os critérios que pode e deve utilizar para definir qual será a quantidade desse medicamento a ser utilizado nesse paciente – variáveis de peso, idade, estado físico, etc. Por outro lado, não é possível esquecer daquele ditado que ensina: “o veneno, dependendo da dose, mata ou cura”. Pois com o medicamento é a mesma coisa.
Todavia devemos considerar outra condicionante - muito mais perigosa: o tempo que se demora até chegar ao diagnóstico. É consenso que enquanto mais rápido for definido o mal e combatido com o medicamento preciso em espécie e quantidade, melhor será a resposta. Portanto, tudo é condicionado pelo fator causal do agravo e dos recursos técnicos auxiliares disponíveis. Lembremos que bactérias, vírus, mutações celulares e inúmeros outros “bichinhos” que também estão brigando para se dar bem em nossos corpos, são tão espertos e mutantes quanto nós, humanos.
Então, caro leitor, percebeu a enorme dificuldade que significa chegar a um diagnóstico? Vejamos como um médico ético e competente teria de se comportar...
A investigação começa ouvindo o paciente. Sem correria, transmitindo confiança e deixando claro que o primordial dessa primeira consulta é colher as melhores informações que ele, paciente, lhe dará! Fatos, sensações, dores, alimentação, práticas de higiene, contatos com outras pessoas e, tudo quanto possa ser importante. Essas preciosas informações devem ser relacionas e comparadas com aquelas que já estão nos protocolos e compêndios de medicina e que, por certo, deverão também estar no cérebro do médico.
Você tem ideia da quantidade e diversidade de coisas que essas informações significam? Por outro lado, você pensa que o curso de medicina proporciona aos médicos todo esse conhecimento apenas com aulas e prática nas universidades? Claro que não!
O médico depois de formado deve continuar a estudar todo dia. Geralmente, parte para uma especialidade, que, no mínimo, exige mais 3 anos de estudo e prática. Ademais, é treinado para manter-se atento, alerta àquilo que a experiência ensina todo dia!
É orientado a buscar atualização e sintonia com os rápidos avanços experimentados pela ciência. O médico deve participar em seminários, cursos, congressos, encontros e outros eventos onde os avanços e descobrimentos são descritos e socializados entre os integrantes da corporação e que é obrigação do gestor, dos Conselhos de Medicina e das Sociedades de Especialidade disponibilizar.
Nesse trabalho investigativo para definir a doença, ademais do conhecimento teórico utilizado na consulta inicial e nas posteriores, o médico deve contar com instrumentos e equipamentos que o auxiliem na mais acurada e rápida definição do agravo. Não porque ele desconheça medicina, senão porque esses aparelhos e instrumentos a cada dia incorporados ao arsenal médico contribuem sobremaneira na mais precoce definição do diagnóstico. Resulta ilógico e injusto para o paciente que existindo novos recursos tecnológicos eles deixem de ser utilizados apenas pelo insustentável argumento do seu custo.
Eis o fundamental conflito!!!
De um lado temos o médico interessado em conseguir fechar o diagnóstico para curar seu paciente o mais rápido possível. Do outro um gestor preocupado com reduzir custos.
Geralmente trata-se de um diálogo de surdos e mudos porque dificilmente as partes sentam para definir protocolos e consensos, quase sempre inviabilizados por que, de um lado prima a ciência médica e do outro as finanças. Raros são os casos onde essas disciplinas compactuam e acertam o passo para beneficiar os pacientes. Forçoso é reconhecer que existem desvios e exageros de ambas as partes.
Retornando ao fundamental momento da definição do diagnóstico, entendo que diante as inúmeras possibilidades postas em face dos sintomas relatados pelo paciente e constatados na primeira consulta, o médico deve utilizar todos os instrumentos e equipamentos disponíveis para encontrar o agente causal da doença o mais rápido possível.
Se isso custa caro? Sem dúvida que tem custo bem maior do que a simples constatação e avaliação clínica que, como já demonstramos antes, é bastante imprecisa e demorada, eis que condicionada à tentativa e resultado.
Para otimizar o trabalho do médico o gestor deve disponibilizar minimamente os instrumentos, equipamentos e auxílio técnico profissional que possibilitem com maior precisão o diagnóstico. Unidades e postos de saúde onde são feitas consultas clínicas devem contar com laboratórios de análises e aparelhos de ultrassom e de raios-x, no mínimo, como requisito indispensável para aprimorar o atendimento e torná-lo resolutivo. O contrário será continuar com o “faz de conta” que hoje temos.
O paciente tem direito CONSTITUCIONAL a receber do Sistema Único de Saúde toda a atenção devida e o auxílio técnico necessário para ver debelada sua doença, mesmo que tais condições exijam maior “gasto”. Lembremos que uma doença devidamente identificada e bem tratada desde seu aparecimento será muito mais facilmente curada. E que uma doença rapidamente curada, para o gestor, será política e financeiramente muito mais compensadora.
Politicamente, o paciente saberá retribuir com votos o bom serviço prestado. Financeiramente serão poupados recursos que seriam demandados com o agravamento da doença: medicamentos em maiores quantidades e frequência, internações hospitalares, exames complementares mais caros e elaborados, tempo de inatividade bancada pelo INSS, tempo de familiares que também devem ser bancados pelo INSS para acompanhar o paciente e outras sequelas posteriores.
Destaquemos, por fim que pelo princípio constitucional da igualdade, todos deveriam receber os mesmos benefícios. Pobres e ricos têm direito a serem bem atendidos e à utilização de todos os meios e recursos disponíveis.
É inegável que as novas tecnologias, apesar de caras, são muito mais eficientes para definir as condições em que se encontra um paciente. Ademais de eficientes, são rápidas, razoes mais que suficientes para justificar sua utilização. Entretanto não adiante pensar que apenas equipamentos e instrumental de última geração vão resolver os problemas sozinhos. Um exame qualquer EXIGE interpretação pelo médico que o solicitou, único com competência técnica para tanto.
Ad nauseam repitamos: o médico é quem dispõe de todas as informações complementares para a correta avaliação do exame. Informações que foram colhidas durante a primeira consulta e que serão aferidas à vista da informação complementar oferecida pelo laudo do exame.
Para mais bem entender o exposto, retomo minha experiência pessoal: preocupado com a minha idade e com esquecimento de fatos recentes, consultei um neurologista. Depois de avaliar clinicamente meu caso, o médico determinou fosse feita ressonância magnética do cerebelo. Fiz.
Quando recolhi o envelope, ao igual que todos os mortais, não resisti. Abri e, conforme lia os achados relatados no laudo, comecei a sentir-me um defunto porque, na conclusão estava escrito que havia sinal de uma patologia que o Dr. Google me informou era incurável e que eu morreria, no máximo em dois anos, lapso em que ficaria também completamente dependente dos outros.
A consulta seguinte com o neurologista estava marcada para a semana seguinte. Pois essa semana foi a pior de minha vida!
Durante a consulta, o neurologista me devolveu a vida. Os tais sinais, de fato existiam, mas para minha idade, eram absolutamente normais. Disse-me para desmontar os preparativos que havia comentado para minha partida e que voltasse a trabalhar como sempre.
Veja, então, a importância do médico.
Um técnico (radiologista) fez a leitura correta das imagens que captou na ressonância. Imagens que para um leigo e mesmo para um médico sem o conhecimento complementar do especialista, teriam o mesmo significado que teve para mim.
Entretanto, essas mesmas imagens, à luz das informações complementares que o neurologista tinha e que foram obtidas na primeira consulta, demonstraram que se tratava de outra coisa muito mais prosaica, velhice!
Em minha terra natal existe um adágio que se aplica aqui: “Zapatero, a tus zapatos!” Ou seja, se você não é médico, não se meta a querer sê-lo porque isso somente vai terminar provocando problemas e esses problemas, quando aconteçam serão grandes demais para você.
Este apanhado tenciona demonstrar que o arremedo de atendimento médico disponibilizado nas redes municipal e estadual de saúde aqui no Acre, carece de sustentação técnica.
Ao contrário do que se pretende exibir, estão gastando mal nosso dinheiro. Falta técnica e conhecimento. Falta ouvir àqueles que conhecem e que sabem do que precisam para prestar um bom atendimento aos pacientes e isso é muito grave porque demonstra que ademais de ausência de visão estratégica, somente há voluntarismo e insipiência.
Minha proposta: Nos que de uma ou outra forma fazemos política de saúde, como disse um ex-presidente em seu último livro, temos que “forçar os limites”, porquanto:
“Política não a arte do possível. É a arte de criar condições para tornar possível o necessário.”
Miguel Ortiz é advogado e ex assessor jurídico CRM-AC e SINDMED-AC.